Há um ano, em 28 de novembro de 2014, morria Roberto Gómez Bolaños, o Chesperito. E Chaves, o maior sucesso da gloriosa carreira do humorista mexicano, morto aos 85 anos, foi criado por acaso. O quadro surgiu às pressas para substituir a ausência de Rubén Aguirre, o eterno intérprete do Professor Girafales, em outro esquete. No improviso, foi criada a base para a série que faz sucesso há quatro décadas em vários países do mundo, inclusive no Brasil, onde é um trunfo do SBT.Em 1971, após o fim do programa Los Supergenios de la Mesa Cuadrada (Os Supergênios da Mesa Quadrada), foi criado o humorístico Chespirito, composto por esquetes como Chapolin Colorado (que já existia desde 1970, na atração anterior), Los Caquitos (estrelado pelo personagem Chompiras) e Los Chifladitos (com o personagem conhecido no Brasil como Pancada).Mas Rubén Aguirre recebeu e aceitou uma proposta de outro canal, desfalcando Los Chifladitos, em que formava dupla com Chespirito. Foi aí que, precisando criar um novo quadro, Bolaños se lembrou de um esquete que já tinha feito anteriormente, envolvendo uma criança.Chaves (no original El Chavo del 8) nasceu de um enredo atemporal, em que um garoto pobre de oito anos (oito também era o canal que exibia o programa no México) discutia com um vendedor de balões, interpretado por Ramón Valdés, que mais tarde viria a ser Seu Madruga. Chespirito viu aí a base daquele que seria o maior sucesso de sua carreira."O nascimento de Chaves é engraçado, eu diria que foi por acaso. (...) Quando Bolaños viu a aceitação do público, descobriu que tinha elementos de comédia muito atrativos e escreveu novamente, mas com uma forma mais espontânea ainda. A palavra-chave foi colocar os personagens em uma vila. Houve um potencial maior e, pouco a pouco, foi criado o conceito central do programa", disse Roberto Gómez Fernandez, filho de Chespirito, ao jornal mexicano Excelsior em 19 de junho de 2011. "Se Rubén Aguirre não tivesse aceitado tal oferta, provavelmente não existiria El Chavo del 8", concluiu.
Em 1972, o programa ganhou vida própria. E durou até 1980, se transformando no sucesso que atravessou gerações. Chegou ao Brasil em 1984, pela perspicácia de Silvio Santos, que recebeu as fitas juntamente com novelas mexicanas da Televisa e resolveu mandar dublar e colocar no ar.
A partir de 1980, Chaves e Chapolin voltaram a integrar o programa Chespirito, exibido até 1995 pela Televisa. A atração foi apresentada no Brasil nos anos 1990 pela CNT, com o nome original, e, nos anos 2000 pelo SBT, como Clube do Chaves.
Supergênios da Mesa Quadrada
Antes de fazer sucesso em diversos países com Chaves e Chapolin, Roberto Gómez Bolaños estrelou uma atração igualmente popular no México: Los Supergenios de la Mesa Cuadrada. A atração estreou em 1968, como quadro do programa Sábados de la Fortuna (Sábados da Fortuna), ganhou vida própria em 1970 e seguiu até 1971, dando lugar às aventuras do super-herói desastrado e do menino do barril.
O humorístico também era exibido pela TIM (Televisão Independente do México) e tinha a participação de Maria Antonieta de las Nieves (que ainda não vivia a Chiquinha), Ramón Valdés, como o bêbado Ingeniebrio Ramón Valdés Tirado Alanís, Rubén Aguirre, já como Professor Girafales, e o próprio Chespirito, como o Doutor Chapatin.
O programa, que inicialmente se chamava apenas La Mesa Cuadrada, consistia numa paródia de programas informativos. Maria Antonieta lia perguntas enviadas pelos telespectadores, que contavam com as hilariantes respostas dos demais participantes. Eles também debatiam os assuntos da semana. O lema era: "problema discutido, problema resolvido".
Também eram exibidos rápidos esquetes, inclusive do Chapolin Colorado (a partir de 1970), e muito material foi reaproveitado depois em Chaves e Chapolin.
Exemplo: em um programa de 1970, Ramón Valdés vende jornais na rua, destacando, aos gritos, a manchete "14 pessoas enganadas", que rapidamente se transforma em 15 quando uma senhora compra um exemplar e fica irritada. A cena é uma das clássicas de Chaves, no episódio dos ioiôs.
No mesmo programa, Chespirito destrói algumas pichorras e Chapolin duela com um vampiro, destruído após o super-herói mover os ponteiros do relógio em plena madrugada e fazer raiar o sol. Tudo isso foi visto posteriormente nas duas séries. Alguns episódios foram gravados diversas vezes ao longo dos anos.
Apesar do êxito, Los Supergenios de la Mesa Cuadrada foi encerrado por Chespirito em 1971 após perder sua essência, justamente ao se transformar em um programa e deixar de ser quadro de outro.
"Havia um motivo forte: a constituição do esquete exigia que muitas brincadeiras fossem apropriadas ao momento, de modo que funcionaria muito bem em um programa como Sabados de la Fortuna, que se apresentava ao vivo, por isso permitia a menção de pessoas e acontecimentos atuais. Porém, perdeu essa característica quando o produto foi armazenado durante duas ou três semanas para constituir a reserva necessária de capítulos", relatou o próprio Bolaños em sua biografia "Sin Querer Queriendo".
Fonte: UOL