Barreira de 9 km não impede chegada de lama ao mar no ES
Brasil
Publicado em 23/11/2015

A barreira de 9 km montada na Foz do Rio Doce, em Regência, Linhares, Norte do Espírito Santo, não foi suficiente para impedir a lama de se espalhar pelo mar na região. Segundo o vice-presidente do Comitê da Bacia do Rio Doce, Carlos Sangalia, o resultado já era esperado, já que o material não é apropriado para segurar água.

Já a Samarco informou que a eficiência das barreiras instaladas nas áreas protegidas chegou a ser de até 80% se comparada a cor da água no estuário, que é o local de encontro do rio com o mar, com o canal principal do rio.

A lama de rejeitos de minério que vazou da barragem da Samarco - cujos donos são a Vale a anglo-australiana BHP Billiton - em Mariana (MG) chegou ao mar neste domingo (22), após passar pelo trecho do Rio Doce no distrito de Regência, em Linhares, no Norte do Espírito Santo, segundo o Serviço Geológico do Brasil.

De acordo com Carlos Sangalia, o material de que são feitas as boias não é apropriado para conter água ou barro. “Tentou-se adequar, mas esse material não segura a água, não tem como. É mais para impedir algum material suspenso, que vem por cima da água, algo mais grosso, para que seja direcionado para a foz do rio”, destacou.

Apesar disso, para a Samarco, mesmo deixando água suja passar, as boias tiveram a eficiência esperada. “Existe um parâmetro que a gente está medindo chamado turbidez, que avalia o quanto a água está turva ou não. Lá no canal principal, as medidas foram de 2,5 mil. Aqui na região (foz em Regência), tivemos resultados de até 500. Então, é 20% do material que está lá no canal principal”, afirmou o representante da mineradora Alexandre Souto.

Ministra

Acompanhada pelo governador Paulo Hartung, na tarde desta segunda-feira (23), às 15h, a  ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, visita o município de Linhares, localizado na região norte do Estado, para acompanhar as ações emergenciais que estão sendo realizadas  por conta dos rejeitos de lama que castigam o Rio Doce desde o rompimento da barragem de minério, em Mariana (MG).

Segundo o governo do estado, a vinda da ministra ao Estado foi combinada  na última quarta-feira (18), no Palácio do Planalto, em Brasília, durante reunião de trabalho de Hartung com a presidente Dilma Rousseff, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel e ministros. O encontro foi a primeira reunião do Comitê de Gestão e Avaliação de Respostas ao desastre no Rio Doce.

Abrolhos

Nesta sexta-feira (20), Izabella Teixeira garantiu que não há risco de a lama das barragens de Mariana chegar ao Arquipélago de Abrolhos. As ilhas estão localizadas no Oceano Atlântico, no litoral da Bahia.

“Não há expectativa de que vá chegar a Abrolhos e os dados preliminares desse modelo dá uma pluma de dispersão de lama de seis quilômetros ao norte, ou seja, Abrolhos está a 250 quilômetros”, diz a ministra.

Ação conjunta

Os governos do Espírito Santo e Minas Gerais, juntamente com o Governo Federal se articulam para entrar com ação conjunta na Justiça contra a mineradora Samarco, empresa responsável  pelos danos causados ao ecossistema do Rio Doce após rompimento da barragem Fundão, em Mariana (MG). Uma reunião com a Advocacia-Geral da União (AGU) foi marcada para esta terça-feira (24), em Brasília.

O governador Paulo Hartung explica que desastres ambientais no mundo já mostraram que a saída em casos assim é a ação conjunta. "O modelo que está sendo levado em consideração é o que foi adotado por Estados, cidades e o governo americano, que unificaram procedimentos jurídicos contra a British Oil, por causa do derramamento de petróleo no Golfo do México, em 2010", exemplifica.

Neste episódio, a empresa foi condenada a pagar US$ 20,7 bilhões de indenização ao governo dos Estados Unidos e a cinco Estados – Louisiana, Mississippi, Alabama, Texas e Flórida – pelo desastre ambiental que deixou 11 mortos. “Vamos ampliar a coordenação entre os governos e nossas procuradorias, para que haja maior convergência no campo jurídico”, adianta Hartung.

O desastre ambiental em Mariana, considerado o maior já ocorrido no Brasil, deixou, até agora, sete mortos. Quatro corpos ainda não foram identificados e 12 pessoas, entre moradores e empregados da Samarco, estão desaparecidas.

A lama que vazou com a queda da barragem, depois de destruir Bento Rodrigues, atingiu o Rio Doce via afluentes, chegado ao Espírito Santo. No caminho, os rejeitos de minério de ferro arrasaram fauna, flora e deixaram moradores de cidades ribeirinhas sem água. Hidrelétricas tiveram o funcionamento suspenso.

Opiniões

Para o secretário geral da ONG Transparência Capixaba, Edmar Camata, os agentes políticos que estão à frente do debate não têm competência para dar as respostas adequadas sobre o problema ambiental, porque não são imparciais.

Camata ressaltou que a atividade de exploração de minério no país é sustentada por um tripé: regulamentação omissa, fiscalização frágil e intervenção fácil nos órgãos de fiscalização.

“A regulamentação é omissa porque não existem marcos regulatórios bem claros; fiscalização frágil, já que não adianta falar em multa de R$ 250 milhões, se a gente sabe que um percentual dela, além de não voltar para tratar o dano que foi causado, é recolhido pelo Ibama; e a intervenção fácil é explicada, porque esses órgãos de fiscalização não são agências reguladoras, são órgãos que, do dia para a noite, tira-se dirigente, muda-se o superintendente e até o dirigente nacional”, pontuou.

Segundo Camata, o que acontece é um ciclo de grandes corporações, muito dinheiro e uma exploração de commodities, exportados de forma barata para o mundo todo. Para ele, o ciclo é sustentado pelo financiamento empresarial de campanhas políticas.

“Os agentes políticos que estão à frente desse debate trazem respostas como se elas tivessem sido muito debatidas. Eles deveriam, na verdade, fazer uma reflexão republicana e ver que não são imparciais para dar essas respostas. Precisamos trazer os melhores pesquisadores, ampliar o debate com a sociedade, para que a gente saiba exatamente de que tipo de dano a gente está falando”, afirmou o representante da Transparência Capixaba.

O padre Kelder Brandão contou que realizava um grupo de estudo interdisciplinar sobre a crise hídrica, quando sobreveio a tragédia em Mariana. De acordo com ele, o acontecimento explicitou a omissão e conivência do poder público com o mau uso dos recursos naturais. “Isso acontece em função do financiamento de campanha, da autorregulamentação das empresas privadas. É um conjunto de fatores que fazem com que a população sofra com a estiagem e, agora, com essa tragédia que mostra a morte do Rio Doce”, disse.

Segundo o padre, um dos principais problemas na questão da administração da tragédia é a arrogância e ignorância das autoridades. “A empresa não sabia nem se a lama ia chegar ao Rio Doce. Temos que conscientizar a sociedade que está nas mãos dela reverter esse quadro, porque o poder público e a iniciativa privada não têm interesse e não demonstram vontade em solucionar os problemas sociais e ecológicos que dizem respeito à vida da população”, opinou.

 

 

Fonte: G1

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